Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

happyness is everywhere

O Povo português é essencialmente cosmopolita. Nunca um verdadeiro Português foi português: foi sempre tudo. FP

happyness is everywhere

45 Anos - o filme

45.jpg

 Vi este filme a semana passada na RTP2 e tocou-me profundamente. É cinema europeu, portanto não se trata daquelas produções cheias de luz e glamour. A casa do casal poderia ser a casa de qualquer um de nós, às vezes a luz não parece ser a suficiente, mas é isso que nos faz mergulhar naquela vida e naquela rotina.

 

Kate e Geof são um casal inglês que vive numa casinha isolada, mas são felizes. Percebemos ao longo do filme que nunca tiveram filhos por opção, nunca tiraram fotografias deles por opção. Mas sempre viveram felizes. O que tinham  bastava-lhes. E ao vermos o início do filme, sentimos essa intimidade sã entre os dois.

 

Mas uma carta vem alterar tudo isso a 5 dias da festa do 45.º aniversário. Essa carta vem da Suíça e informa que o corpo da primeira namorada de Geof, Katya, foi encontrado. Ela tinha morrido tragicamente 50 anos antes durante umas férias do casal, ao cair numa fissura de um glaciar. Aquela notícia vai abalar a calma instalada. O passado começa a assombra-los e ele sente que deve contar algumas coisas. Assim, ela vai-se apercebendo que o passado foi um fantasma presente em todo o seu casamento.

O facto de não terem fotografias deles, uma opção comum. O facto de não terem filhos, outra opção comum. Mas percebe-se que acabou por ser opção comum pelo facto de ele ser inabalável e ela ter começado a defender esses mesmos ideias. Aliás como acontece/acontecia tantas vezes num casamento. Às tantas, não se percebe quais são as opiniões de um, de outro ou de ambos. 

Conforme a semana vai correndo e a festa se aproxima, mais detalhes vão sendo falados e a Kate apercebe-se que o passado do Geof com Katya (até o nome é semelhante), moldou o seu casamento e as suas escolhas enquanto casal.

 

 Ao descobrir fotos antigas (imensas fotos) de Ktya no sótão e apercebendo-se que ela estava grávida quando morreu, o mundo de Kate desmorona. Começa uma crise de falta de confiança. Mas na véspera da festa, de forma pragmática, Kate diz-lhe que não quer divulgar as dificuldades deles. Que vão deitar-se, levantar-se e colocar tudo isto para trás das costas. E no dia seguinte, ele parece outro homem. Fê-lo sem dúvida. E aí percebemos que ela sente mais dificuldades em seguir em frente.

 

Chega o momento da festa. A lista de músicas foi escolhida por eles, sendo a música para abrir a dança, a mesma do casamento deles. Smoke gets in your eyes. Toda a gente conhece, mas coloquei o vídeo no final para relembrar.

Eles começam a dançar, ele todo feliz, ela igual, mas conforme a música vai tocando, ela entra em vertigem. Num momento excepcional, em que o realizador se foca minuciosamente na sua face, percebemos que ela tem uma revelação acerca daquela música - a música deles - que afinal é uma canção sobre o fim.

 

O final é magistral. Um encerramento magnífico. Eu fiquei uns bons minutos colada ao sofá depois do filme ter terminado. A transformação no rosto dela enquanto percebe que a música foi sempre uma música sobre o amor perdido de Geof, que até na música de casamento o fantasma de Katya imperou, é espectacular. 

 É uma cena incrível,  em que alguns minutos valem pelo filme inteiro.

 

They asked me how I knew
My true love was true
I of course replied
Something here inside
Can not be denied

They, said some day you'll find
All who love are blind
When your heart's on fire
You must realize
Smoke gets in your eyes

So I chaffed them, and I gaily laughed
To think they could doubt my love
And yet today, my love has flown away
I am without my love

Now laughing friends deride
Tears I cannot hide
So I smile and say
When a lovely flame dies
Smoke gets in your eyes

Smoke gets in your eyes