The 15:17 to Paris - o filme
Primeiro, fui ver o filme às escuras. E não estou a falar da sala.
Sabia que se tratava de um filme verídico, baseado na história que se passou em Agosto 2015, quando um grupo de 3 amigos americanos imobilizou um terrorista que entrou em Bruxelas, no comboio de alta velocidade Amsterdão-Paris e onde viajavam 554 pessoas. As pessoas eram maioritariamente homens de negócios que regressavam a casa e turistas.
Ao longo do filme, comecei a perceber que o filme era diferente do tradicional filme americano. A visão do realizador e o facto de não conhecer nenhum - nenhum! - actor, fez-me começar a desconfiar, mas sem saber do quê exactamente.
Claro que eu já esperava que o filme não fosse apenas o ataque, mas que remontasse à infância dos protagonistas. E assim foi. Vimos como nasceu a amizade, vimos como não eram alunos exemplares (antes pelo contrário), como a vida os afastou fisicamente, apesar de nunca ter diluído a amizade. Vimos cada um deles seguir o seu percurso tradicional, sendo que um deles esteve inclusivamente, na base militar dos Açores.
No filme, apesar de algumas pessoas terem ficado feridas, não houve vítimas mortais. E os três amigos, em conjunto com mais dois senhores que estavam no comboio, foram no final condecorados pelo presidente François Hollande.
E foi aqui que estranhei completamente. O François Hollande a entrar no filme??
No final (já depois de toda a gente ter saído da sala menos eu - o que se passa com as pessoas que assim que aparecem as primeiras letras do genérico, são projectadas para fora da sala?) fez-se luz! Quando começaram a passar as imagens do cortejo de boas-vindas a Sacramento, e eram os próprios!
Realizador? Clint Eastwood
Actores? Os próprios (daí não ter reconhecido nenhum dos actores e ter constatado que era o próprio Hollande)
Sabiam que em toda a história do cinema, isto só aconteceu em 1955, com o herói da 2ª GGM, Audie Murphy no filme “O Regresso do Inferno”?
O que dizer da visão do Eastwood?
O filme parece quase um documentário, desprovido daquelas coisas épica-patriótica-dramáticas sem discursos que enaltecem como a América é grande, quase como o cinema clássico. Se uma palavra poderia definir o filme? sim, simplicidade.
Ele mostra-nos a viagem dos 3 amigos, como são as viagens de amigos: fotografias, selfies, borga, enfim, coisas naturais. Depois, o efeito aleatório da viagem a Paris. O facto de a Kalashnikov do terrorista ter encravado no momento H, o que mostra que o mais provável fosse que todos tivessem sido abatidos, por mais corajosos, e empenhados que tivessem sido.
Tudo isto leva a que se saia da sala com aquela sensação de que eram homens normais, que escolheram lutar, escolheram agir. Se tivéssemos ocasião e treino militar, não agiríamos todos assim?
Esta foi certamente para eles os 3, a aventura de uma vida, complementada por uma experiência inesquecível de re-contar a história num filme dirigido por Clint Eastwood!
Aconselho a ver, se prescindem daquela visão americana dos filmes, se gostam de cinema europeu.