Desafio da escrita - dia 30: Prémio
Tenho 77 anos.
A minha vida foi difícil. Numa era em que nenhuma vida de mulher era fácil. Ainda não é. Mas dantes, era mais difícil. Não só pelas mentalidades, mas pelas poucas facilidades.
Tive 10 filhos. Verdade que só os primeiros custaram a criar. Os outros, faziam parte da rola oleada e até parecia que se criavam sozinhos. A verdade é que era uma osmose de bondade e de costumes que fizeram a nossa família crescer e solidificar. Sabíamos que dependíamos uns dos outros. Mas no final de contas, nós éramos os adultos, responsáveis por todas aquelas crianças. Depois um dia fiquei sozinha. Eu e mais aqueles que dependiam de mim. Mas como família à antiga, numa aldeia verdadeiramente global como eram as aldeias, nunca nos faltou nada. Nem comida, nem amor.
E hoje aos 77 anos, recordo a minha vida, olho para a vida dos meus filhos e vejo a perpetuação nos meus netos. E penso que isto é uma espécie de prémio por todo o esforço, por todas as dificuldade sofridas mas ultrapassadas. Porque no fundo, o prémio da vida não é esse mesmo?