As minhas férias grandes
As minhas férias grandes eram incríveis.
Lembram-se das aulas acabarem na primeira semana de Junho e só recomeçarem a 1 de Outubro? E por vezes nem aí porque nessa altura os professores nunca estavam todos colocados, e andávamos todos a meio gás até as aulas estarem mesmo completas. Porque até essa altura tínhamos imensos furos. Lembram-se dos furos? Não havia Associações de Pais, nem vozes contestatárias e espante-se: conseguimos tirar cursos (!) e sermos gente bem sucedida. Como ??? Hoje parece impensável, não é?
Mas naquela altura, estar quatro meses de férias eram um sonho, mas também transformavam o regresso às aulas um momento ansiosamente desejado. Fomos possivelmente a última geração da rua. Da liberdade de andarmos aos molhos, pelas ruas e jardins, sem que os pais se preocupassem connosco.
No meu caso, o meu pai montava tenda em Melides, no Alentejo naquele primeiro fim de semana de Junho e por lá ficávamos até à última semana de Setembro. Até eles eram assim, cools, não stressados. Os livros da escola? Há tempo para tratar disso!
E não éramos os únicos. Parte dos nossos amigos faziam o mesmo e portanto criávamos o nosso bando lá em Melides, com amigos e novos amigos vindos de toda a parte do país. Fazíamos tudo juntos.
Levantavamo-nos, pequeno-almoçávamos e upa, bora lá que o dia está a começar. Juntar no arreal, mar, banhos, muita nívea na ponta do nariz e nos ombros porque em 4 meses, muitas vezes a pele ficava em ferida... Almoçávamos com a família e depois eram mais 3 horas de convívio entre nós - porque a hora da digestão era sagrada. E aí fazíamos outras coisas, passeávamos pelos pinhais lá perto (foi aí que dei o meu primeiro beijo), jogávamos matraquilhos (sim, sou barra nisso), ou ficávamos apenas sentados à sombra, no alpendre da casa azul, a conversar e normalmente a dizer parvoíces... Nova tarde na praia, banho, jantar e à noite, com a praia muito mais deserta, os pais iam jogar cartas nos restaurantes dali e nós de novo em bando, explorávamos as redondezas até à meia-noite! Foi numa dessas noites que aconteceu este episódio que contei nos primeiros dias do meu blog.
O meu pai iniciou-me a mim e aos meus irmãos na pesca submarina em apneia. apanhávamos pampos, linguados que depois distribuíamos quando chegávamos à praia, por todos os "residentes". Houve um ano particularmente rico em lagostas e apanhámos toneladas. Nesse ano, toda a gente em Melides comeu lagosta dia sim, dia sim... de todas as maneiras.
E era assim, dia após dia, durante 4 meses. Fui muito feliz nessa altura. Mais algum de vocês tem este tipo de memórias, ou se cruzou comigo em Melides?