Desafio da escrita - dia 17: Relógio
Um relógio semelhante a este calhou em herança. Da minha avó, que tinha uma grande estima por ele.
Eu recordo-me de estar na altura dos pesadelos e dos monstros debaixo da cama. Na casa da minha avó no Alentejo, esse som compassado, o ritmo esperado e antecipado conseguia sempre acalmar-me.
Durante as férias, aquele cuco era o meu melhor amigo. O amigo noctívago porque durante o dia, tinha amigos de carne e osso e estávamos sempre muito ocupados para pensar em monstros sub-camais. Tínhamos de andar de bicicleta, apanhar canas e amoras, fazer o caminho até à vila (e que nenhum adulto desconfiasse que nos afastávamos tanto!), apanhar figos. Lembro-me agora que foi no Alentejo que descobri a minha primeira laranja sanguínea (ou laranja vermelha)...E se gostei...
Há uma história muito gira sobre um relógio:
Um camponês perdeu um relógio valioso no celeiro. Procurou em vão e pediu a um grupo de meninos e meninas se o ajudavam a revirar tudo. Deu recompensa mas mesmo assim, ninguém encontrou.
Quando estava quase a desistir, um menino veio ter com ele e pediu para tentar sozinho. O camponês, que não tinha nada a perder, acedeu.
Algum tempo depois, o menino saiu do celeiro com o relógio na mão.
- Como conseguiste encontrar ??
A criança respondeu que não fizera nada, a não ser ficar sentado no chão, em silêncio. Em silêncio, conseguiu ouvir o tic-tac do relógio e foi na sua direcção.
E muitas vezes é assim, precisamos de ter paz na cabeça para pensarmos melhor .