Desafio da escrita - dia 19: Aldeia
Sempre tive um fascínio por aldeias.
Tenho a certeza de que não conseguiria viver numa, mas acho fascinante toda aquela familiaridade, as histórias partilhadas.
O meu pai é de uma pequena aldeia do concelho de Mértola. Todos os anos lá íamos. Toda a aldeia é família. Uns mais próximos, outros mais afastados, mas todos primos e tios.
Andei a pesquisar fotos na internet e acabei por escolher esta, porque em todas as outras, a reacção foi:
Oh esta não que é a casa do primo. Ai esta também não que é o portão da tia-avó. E assim por diante.
Sendo uma terreola vizinha às minas, há por ali muitos homens que trabalhavam como mineiros e alguns outros trabalhos, que a vida de alentejano não é fácil. Quase todos com terrenos e animais, há que cuidar das plantações e alimentar o gado.
Ainda conheci as minhas tias a irem à fonte comunitária lavar a roupa, fazendo uma trouxa perfeita para transportar alguidares cheios de roupa à cabeça. A lavagem da roupa era uma tarde toda. Que havia que ensaboar, colocar a corar espalhando a roupa por cima das ervas altas, arbustos, o que por ali houvesse. Depois, havia que enxaguar, dobrar no alguidar e fazer-se o caminho de volta que neste caso eram à volta de 5 km.
O pão era cozido em comunidade também. Acendia-se o forno comum e as pessoas iam à vez cozer os seus pães. Lembro-me que os pães se guardavam em tabuleiros compridos de madeira, tapados com um pano de algodão e assim se conservavam durante uma ou duas semanas.
As matanças do porco era igual. Todos participavam em todas e eventualmente, chegaria a sua vez de serem ajudados para precaver alimento para todo o inverno.
Até a ida à fonte buscar um jarro de água não era uma acção solitária porque certamente se encontraria alguém no caminho ou na fonte.
À noite, o encontro era no largo e por ali andavam os mais novos junto com os mais velhos. Ouvi tanta história contada por aqueles velhotes e que ainda hoje recordo.
A vida numa aldeia não tem certamente o interesse que atribuímos às cidades, mas tem as particularidades que unem as pessoas e que nos recorda que só podemos viver/sobreviver em comunidade.
E esquecemos isso tão frequentemente...