Desafio da escrita - dia 9: Branco
(conto atrasado - dia 9)
Melides. Agosto. Marés vivas.
Sempre gostaram do mar agitado. Pelas histórias que o pai contara toda a sua vida. Era um contador de histórias. Como todos os avôs devem ser um dia.
Era também um sobrevivente e quis ensinar isso aos filhos. Nos momentos de mar mais revolto, empurrava os filhos para dentro de água e mandava que ficassem lá por uma hora. Explicava que é preciso nadar o suficiente para procurar o local onde a onda está mais calma. Em que basta subir a onda. Ou, não sendo possível, como se enrolar como um bicho de conta e deslizar até ao fundo do mar, à espera que a onda passe.
Essa foi uma grande lição de vida. Porque com isso os filhos aprenderam que há batalhas em que vale a pena ir à luta, mas há outras que mais vale contornar e esperar que passe. Escolher e não desgastar.
Mas a luta era sempre sair daquele mar. Porque as ondas explodiam numa revolução de espuma branca. Segunda lição: Nem sempre a aparência corresponde à verdade.
Porque essa espuma branca, apesar de parecer leve, era sempre a parte mais difícil.