Espelho com espelho
Há algum tempo, ia de viagem com o meu filhote pela estrada de Milfontes, a caminho de Lisboa para irmos apanhar o avião. Esta estrada esteve anos em mau estado, com bermas muito esburacadas, em que a única solução era conduzir mais ao meio. Só o ano passado foi arranjada.
Então, numa ligeira subida, cruzei-me com um carro em sentido oposto. Abrandei, encostei-me o mais que pude à direita, mas ainda assim os nossos espelhos tocaram-se.
O meu espelho ficou intacto. Continuei. Normalmente quando é toque de espelho com espelho, cada um assume os custos do seu. Pensei, se o meu não partiu, o dele também não deve ter partido. Mas olhei pelo espelho retrovisor. O carro encontrava-se parado na sua berma. Continuei. Mais acima, voltei a olhar e o carro continuava na mesma. Parei. Retomei o andamento para poder dar a volta num sítio onde tivesse visibilidade. Quando cheguei junto da viatura, continuava parada e as pessoas lá dentro. Hesitei porque levava uma criança comigo, mas acabei por sair do meu carro e ir ver o que se passava.
Vocês não imaginam a cena!
Um casal de velhotes, completamente em choque porque apesar do meu espelho permanecer intacto, o pára-brisas deles tinha estilhaçado completamente e estava literalmente aos bocadinhos, no colo deles... Não faço ideia como aquilo aconteceu. Eles tampouco!
Lá os ajudei a sair dali, a sacudir os vidros. Dei-lhes o meu contacto, perguntei se iam para perto (o que era o caso) e fiz a participação.
Apesar de tudo o que me disseram depois (que não tinha de parar, que a responsabilidade é partilhada, etc. etc.), fiquei muito satisfeita por ter parado e ido verificar a situação. Ainda que não seja responsabilidade nossa, não é suposto ajudar o próximo?