Fuga com consequências
Quando eu era adolescente, acampávamos em Melides durante as férias grandes. Eram literalmente 3 meses na praia - até ficarmos completamente pretos e termos de andar com quilos de creme no nariz durante todo o dia, porque este pedaço de corpo era seguramente o que mais sofria....
Mas à noite, juntávamos todo o pessoal do nosso grupo e íamos até ao parque de campismo, jogávamos aos matraquilhos (fiquei barra), fazíamos fogueiras na praia ou simplesmente ficávamos por ali a conversar...
Nas noites em que íamos ao parque de campismo, parávamos normalmente numa vinha para comer umas uvas. Uma noite, o dono da vinha estava à nossa espera e correu connosco a tiros de caçadeira. A rir, lá fugimos e fomos a correr até às nossas tendas. E assim passou o resto do verão, praia, água salgada, tempo da digestão, noites e aqui e acolá, um namoradito.
E nunca mais voltei a pensar nessa ida às uvas...
Há 2 ou 3 anos, resolvi ir ao médico ver um sinal que tinha na perna e que ao longo dos anos foi crescendo. O médico no hospital examinou a parte de trás da perna, disse que ia fazer uma biopsia e levou o que recolheu "lá para dentro". Quando voltou perguntou se eu nunca tinha levado um tiro de caçadeira. E aí lembrei-me da história!
Então: o médico quando abriu a pele deparou-se com uma cápsula. Retirou-a e levou-a com o colega para ir verificar melhor. Quando abriram as camadas de tecido que ao longo dos anos o organismo criou para se proteger daquele corpo estranho, lá dentro estava nada mais nada menos que uma pedra de sal!!
E não, não me apercebi porque depois da noite em que isso aconteceu, com os constantes banhos de água salgada e exposição ao sol, a ferida cicatrizou sem que eu me apercebesse dela...
(E lembrei-me desta história há dias quando passou no telejornal aquela senhora que partiu o braço e só aí se percebeu que a limitação no braço que sentia há anos, era um estilhaço de bala alojado)