Jura - as Minas de Sal
Fui para lá sem ideia nenhuma do que ia ver e fiquei muito surpreendida pela história.
A visita às minas só pode ser feita em visita guiada e nessa visita todo o processo nos é explicado. Mas antes, podemos visitar o museu onde se compreende a evolução desde um tempo em que não existia qualquer tecnologia e todo o trabalho era feito à custa do esforço físico dos homens. As condutas e especialmente o sistema de alavancas e correntes que depois de descoberto, facilitou imenso todo o trabalho e transporte.
Experimentei estes 3 tipos de roldana e posso confirmar que a força exercida no primeiro em que a roldana é simples e a força exercida no segundo ou mesmo no terceiro, em que a roldana é tripla, não tem nada a ver!!!
A visita começa com a descida de degraus até uma profundidade de 243m. Não existe elevador, pelo que se torna um bom exercício de ginástica! Portanto, para além de uma razoável condição física, é fundamental que não se sofra de claustrofobia.
As minas de Salins-les-Bains começaram a ser exploradas na idade média e estas minas e estas armações que vemos nas fotos, trabalharam incessantemente de 1852 a 1967. As galerias foram classificadas em 1971 como Monumento Histórico e em 2009, como Património da Humanidade da UNESCO.
As galerias são amplas, de estilo gótico
A Grande Salina de Salins-les-Bains começou a funcionar no século 4, o que me pareceu absolutamente incrível! Basicamente, esta salina nasceu, geologicamente explicando, pela presença de um mar pré-histórico que depois da evaporação deixou um banco de sal. Essa água salgada que dá origem ao sal, foi designado durante alguns séculos como Ouro branco.
Para terem uma ideia, antigamente 1l de água salgada correspondia a 40g sal (cerca de 4 colheres de café. Com a Idade Média e o aumento da produção, foi necessário aumentar o poder de conservação de alimentos, e assim se passou a 80g. Até que na década de 60 se conseguia já uma média de 330g. Mas o custo era demasiado e assim se terminou a época do sal resultante dos processos de calor e se passou à industrialização. Hoje em dia, o que comemos, aquele sal mais barato, tem muito pouco a ver com o sal original.
O processo de dessalinização
Durante séculos, a madeira foi usada como combustível. No início do século XIX, por razões de calor e de economia, foi adoptado o carvão . A título de curiosidade, era preciso 2 toneladas de madeiras para originar 1 tonelada de sal. Quando se começou a usar carvão, este estava aceso 24 sobre 24h, o ambiente chegava aos 50º e a humidade aos 70% e a água da salmoura, a 90º. Isto tudo sem equipamentos de protecção, na altura. Imaginam trabalhar sem fatos, luvas, máscaras??
No século 18, foi instalada a nora, moinho de água e as calhas de madeira. Isso permitia rodar cerca de 1200 à 1500 litros por hora e essa salmoura era depois enviada por calhas até outra fabrica de quente a cerca de 60km de distância!!
A evolução das técnicas, a ausência de modernização, a conservação pelo frio e a competitividade encerrarão as salinas em 1962. Em 1966, as salinas tornam-se propriedade da Cidade e é então que decidem iniciar a sua demolição. É então que a cidade se apercebe que essa salmoura podia servir para dessalinizar as estradas e passeios, aquando dos nevões. E isso travou a demolição. Felizmente!
Porque aquelas galerias, com 1200 anos de história e tecnologia, retratam bem a importância do sal na sobrevivência do Homem enquanto espécie!
Ver a primeira parte da viagem, aqui!